Há tempos me debruço numa pesquisa teórica e fotográfica acerca do retrato: sua composição, sua rigidez, a pose, o gesto, o olhar, a transferência e a intimidade provocada entre os atores do processo fotográfico, uma relação exercida por estas três subjetividades: fotógrafo, fotografado e espectador. A posição que o fotógrafo ocupa levanta questões ligadas à construção do imaginário de si e do outro. Quando se pretende a imagem do outro numa fotografia, este, o fotógrafo, se atenta a si mesmo. A partir desta construção observa o quanto existe uma busca de si no outro, ou também, poderia dizer, um encontro de si com o outro.
O retrato é um formato clássico desde a pintura, que antes representavam personalidades da História e, até então, a figura sujeitada num retrato impõe uma atmosfera célebre. Da moça de Vermeer ao Retrato de Dorian Gray, dos instantâneos de Warhol ao retratista lá da praça no centro da cidade. Aquela fotografia que atravessa os tempos e que guarda um enigma – o intrínseco que é revelado. Existe um devaneio de memória e de como as histórias pessoais são preservadas e relembradas através deste artifício. Trata-se de um formato tradicional – na pintura e posteriormente na fotografia – para as fotos de família e de grandes personalidades (políticas) que pretendiam que seus feitos fossem relembrados por sua figura.
Nicolas Soares